EFICIÊNCIA DO ÓLEO DE NEEM NO CONTROLE DE PRAGAS DO CITRUS

A história da citricultura brasileira está intimamente ligada à própria história do país. Poucos anos após a descoberta do Brasil, por volta de 1530, os portugueses introduziram as primeiras sementes de laranja doce nos Estados da Bahia e de São Paulo. Dadas às condições ecológicas favoráveis, as plantas produziram satisfatoriamente, e as frutas já eram de excelente qualidade. Mas somente a partir de 1930 é que a citricultura começou a ser implantada comercialmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, e posteriormente se espalhou por todo o país.

A citricultura contempla, além da laranja, que é o principal produto dessa cadeia, a tangerineira, a lima ácida e o limão e é uma das principais atividades agrícolas do mundo, apresentando alto consumo em vários países, independentemente da classe social da população.

A citricultura brasileira, que detém a liderança mundial, tem se destacado pela promoção do crescimento socioeconômico, contribuindo com a balança comercial nacional e, principalmente, como geradora direta e indireta de empregos na área rural, sendo responsável por mais de 80% das exportações mundiais de suco de laranja e mais de 30% de toda a produção mundial da fruta. Quase 100% do suco de laranja produzido no país é exportado, isso graças ao produtor rural, que tem produzido, ano a após ano, frutas de excelente qualidade. São Paulo é o principal estado produtor, seguido por Minas Gerais, Paraná e Bahia.

Para a safra 2019/2020, a estimativa de produção é de 385 milhões de caixas de 40,8 kg de laranja, segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (FundeCitrus). 

No entanto, a produção de Citrus é constantemente afetada por mudanças climáticas e diversos problemas fitossanitários, como pragas, que muitas vezes transmitem doenças causadas por fungos, bactérias e vírus. 

Para evitar uma possível queda na produtividade é necessário saber identificar a presença dessas pragas e realizar o manejo correto em cada situação. Por isso, vamos mostrar aqui algumas das principais pragas da citricultura, e formas alternativas e eficientes de controlá-las. 

  • Ácaro da Leprose (Brevipalpus phoenicis)

Este ácaro, agente causador da leprose, ataca folhas, ramos e frutos, provocando lesões extensas e profundas nesses órgãos da planta. Nos frutos, as manchas prejudicam a aparência externa, que reduz drasticamente o seu valor comercial, além de afetar a produtividade da planta.

Figura 1. Sintomas de leprose nas folhas, ramo e frutos de laranja.

Controle

Devido à alta pressão de seleção com acaricidas e a evolução da resistência com acaricidas para ácaro-da-leprose e ácaro-da-ferrugem têm sido um problema emergente ao citricultor Brasileiro. O uso intensivo de agrotóxicos pode provocar desequilíbrios biológicos, favorecendo a reincidência, assim como o aparecimento de novas pragas. Entretanto, há uma tendência em se substituir os agrotóxicos por produtos mais seletivos e que sejam seguros ao ambiente e ao homem.

Neste contexto, a utilização de produtos naturais no controle de pragas tem se destacado entre os métodos alternativos de controle.

Um estudo publicado na revista Pesquisa Agropecuária Tropical da universidade federal de Goiás, utilizou o óleo de Neem em bioensaios em laboratório com imersão de frutos de tangerina Murcote (Citrus reticulata blanco x Citrus sinensis) infestados por adultos de ácaro da leprose. Após 72 horas da exposição, o óleo de Neem obteve a mortalidade de 92% dos ácaros presentes nos frutos. Comprovando assim, uma alternativa eficaz no controle do ácaro da leprose em Citrus.

  • Psilideo do Citrus (Diaphorina citri)

Os Psilídeos são insetos que se alimentam da seiva de plantas como murtas e toda as variedades de Citrus. Assim como as cigarrinhas, os danos econômicos diretos causados pela alimentação deste inseto são mínimos, no entanto o psilídeo Diaphorina citri é o vetor da bactéria Candidatus Liberibacter spp, causadora do greening (huanglongbing/HLB), O greening é, atualmente, a doença de maior impacto econômico da citricultura mundial.

Insetos adultos que se alimentam de plantas doentes adquirem a bactéria e passam a transmiti-la para outras plantas sadias. Insetos que se desenvolvem em plantas doentes aumentam a sua capacidade de transmissão da doença.

Figura 2. Diaphorina citri, psilídeo transmissor do greening e Sintomas de greening em folhas de laranja.

Controle

Em 2015 o departamento de entomologia e acarologia da Escola superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade Federal de São Paulo (ESALQ/USP) publicou um estudo realizado a campo com a variedade de Laranja Pera-Rio no controle do Psilídeo Diaphorina citri com inseticida à base de azadiractina (presente no óleo de Neem) e sua ação sobre o parasitoide Tamarixia radiata muito utilizada no controle biológico pois utiliza as ninfas do Psilídeo para se reproduzir.

O estudo mostrou o controle de 89% das ninfas do Psilídeo Diaphorina citri, 72 horas depois da aplicação não apresentando controle em adultos.  Com relação a toxicidade da azadiractina em Tamarixia radiata, o tratamento com azadiractina se assemelhou ao controle, não apresentando toxicidade às vespas.

De acordo com o estudo, inseticidas à base de azaractina são uma excelente alternativa no controle Psilídeo Diaphorina citri, podendo inclusive ser utilizado em conjunto com o controle biológico, pois não apresentou toxicidade para as vespas de Tamarixia radiata.

Vale destacar que inseticidas à base de azadiractina apresentam curtos período de carência pois se degradam facilmente no meio ambiente, possibilitando assim sua utilização em períodos pré-colheita, período crítico onde aumenta a demanda produtos que não gerem resíduos tóxicos.

  • Mosca negra (Aleurocanthus woglum)

De origem asiática, a mosca negra (Aleurocanthus woglum) causa danos diretos e indiretos aos Citrus e prejudica o desenvolvimento e a produção das plantas.

A mosca negra alimenta-se da seiva da planta, deixando-a debilitada, murchando-a e, em alguns casos, levando-a a morte, se não forem realizadas medidas de controle. A fumagina, que é causada pelo fungo Capnodium sp., se desenvolve sobre as excreções da mosca negra e chega a revestir totalmente a folha, acarretando redução da fotossíntese e impedindo a respiração da planta. 

Figura 3. Mosca Negra em folhas de Citrus.

Controle

Em 2017, um artigo publicado na Revista Brasileira de Fruticultura sobre a ação do óleo de Neem nas fases jovens (ovo e ninfa) da mosca negra em condição de laboratório. Os tratamentos com o óleo de Neem foram conduzidos com aplicações na face superior da folha (adaxial) e na face inferior (abaxial), local onde as moscas se alimentam e ovipositam.  Os dois testes foram necessários para verificar o efeito translaminar do óleo de Neem nas folhas de Citrus.

Quando aplicado diretamente na face inferior da folha, o óle de Neem obteve 85% de mortalidade dos ovos e 81% de controle de ninfas.

A aplicação na face superior da folha resultou na mortalidade acima de 50% de ovos e de 75% de ninfas. No teste não foram avaliados os efeitos do óleo de Neem em insetos adultos de mosca negra.

Com base no estudo, o óleo de Neem se mostrou uma importante ferramenta no controle de mosca negra em Citrus, visto que ainda há poucas moléculas registradas para a cultura no controle da praga, reduzindo a possibilidade de rotação de moléculas e aumentando os riscos de resistência da praga. 

O óleo de Neem é uma importante ferramenta para o citricultor brasileiro no que diz respeito a controle de pragas, pois além de ser eficaz no controle das pragas citadas, ainda pode ser associado ao controle biológico no manejo integrado de pragas e ideal para ser utilizado em períodos pré-colheita, devido ao seu curto período de carência e rápida degradação no meio ambiente.